domingo, 5 de abril de 2009

Flowers


10:00 horas da manhã.
Tudo já está tão claro lá fora; e eu aqui, tentando me levantar de mais uma noite.
Esticando bem os braços, desbravando os músculos encondidos na pele macia, ainda deitada, rolando de um lado pra o outro da cama e a seda à deslizar sobre meu corpo.
Levanto em um silêncio total dentro de mim, organizando as idéias do dia.
Me deparo com uma menina! Menina com seus traços de mulher. Ela é tudo o que carrego em mim: morena, de cabelos lisos que deslizam caindo no ombro, olhar desconfiado e penetrante. Corpo de menina, cabeça de gente-grande, coração de adolescente e alma de criança. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.¹
Desconfiada de tudo mais ainda acredita na palavra dita olho-no-olho. Ah, essa menina, eu vi no meu espelho que, por sua vez já estou pra jogar fora, assim como as outras coisas velhas que insisto em manter em meu quarto: fotografias, cartas... recebidas e muitas não enviadas, agendas que anotaram coisa alguma, corações velhos. Enfim, tudo o que um dia juguei por ser o melhor.
Ao sentir-me só, o já ocorreu por várias vezes, lembro-me das brincadeiras de infância, onde tudo era tão doce quanto mel. Onde a ignorância ainda não tinha o total domíneo sobre a humanidade. Apesar da inconformidade agitando-se por dentro, a conformidade paira por fora.
Mudar... por onde começo?

¹- Clarice Lispector (citação)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Diga-me você...