quarta-feira, 15 de julho de 2009

Aquela quarta-feira

Havia chegado a hora: tempo de desespero.
Tivera uma manhã de provas e uma falta momentânea de ar. Achara que fora pelo nervosismo.
Ao chegar em casa foi recebida por um breve sorriso, por uma cara triste e injuriada e por um silêncio. Pouco depois começaram os gritos, ofensas e logo se viu na situação triste que tanto lhe causava desespero e dor. Dessa vez ela agiu diferente: não só ameaçou, ela partiu. Já tinha em mente o lugar de sua paz. Saiu. Andando um tanto desnorteada, prendendo o choro - o que não era capaz de fazer com facilidade; no caminhar deixara escapar algumas gotas amargas. Temia olhar para outros rostos, temia que encontrassem seu desespero, temia assumir o que tanto lhe doía. Seu coração palpitava e por vezes sentiu faltar-lhe o ar.

Enfim, chegou ao lugar de paz. Chegou na igreja. Ali, sabia que poderia chorar, enfim. E chorou, chorou toda a dor e chorou o choro da dor. Ninguém à incomodou, poucos à olharam. Só os anjos na espreita. Alguns minutos e anunciaram a missa. Ali estava, ali ficou. Ouviu as palavras do Santo Evangelho e era quase que impossível conter as lágrimas. Mastigando cada palavra, entre um choro e outro, foi aquietando-se. Fim de missa. Baixou a cabeça no banco; o ultimo banco. Pensou, pensou e pensou. Observou alguns franciscanos e pensou na vida simples que levavam e refletiu que ela também poderia ter essa paz. Alguns instantes e ela levantou, foi para a capelinha. De joelhos no chão, rezou. Por um longo tempo, ali ficou. Só ela e Deus.

Com o coração acalmado e fé renovada, sentou-se em frente a igreja. Papel e lápis nas mãos, se pôs a escrever. Começara a contar para seu fidelíssimo amigo papel, esta história quando foi surpreendida por aquela cara triste e injuriada daquela pessoa que ela tanto ama. Que assim, sentada à seu lado, se pôs a chorar. Ela, sem muito o que fazer, chorou junto. Passado algum tempo, conversaram ofegante, desabafaram e se viram numa situação de fé e coração contra o mundo. Verdades e suposições dolorosas. Parecia que seu peito fora cortado e em seguida tivessem jogado ácido e esfregado com bombrill. Sabia que dali em diante seria a sua fé seu amparo. E logo em seguida, deixou fluir o que martelava em sua mente desde cedo, enfrentar o mundo dói, dói muito. E se viu incapaz. Se viu perdida.

Um pouco acalmadas, abraças e molhadas em lágrimas, ajustaram-se. Olhos inchados e cansados de chorar. Levantaram-se, deram uma volta e assumiram que, enfrentar o muito dói, é verdade; mas na batalha em que o mundo enfrenta Deus... Ah, não tente.

Carta de desabafo, destinada à alguém e que ainda não foi enviada.

E agora!, quem és tu? Deixaste ser levada por filhos de ninguém. Por pessoas de coração de buracos e espinhos. Por ama preta em que foste seduzida. É isso o que queres para ti? Queres abdicar do verdadeiro amor? Renega tua família e os entregue ao desespero com um beijo. Torna-te vagante marginal. Não lembre que já teve família, muito menos em quais motivos, razões e circunstância tu chegaste e permaneceu. Esqueça que alguém deu de ombros à vida que tinha e enfrentou um mundo que queria te matar. Esqueça também que cometeram um crime. Não! Não caia no remorso que te surpreenderá em uma destas noites que virão. Não se debata, não se agrida. Seja forte e viva a "sua vida". Não lembre que terá três rostos tristes em vigília no escuro. Não sinta o gosto amargo do abandono. NÃO! Não chore. Isso ainda machuca. Sossega no teu canto. O tempo está correndo e eu ainda não sei olhar nos teus olhos. É que me dói, sabe?! Eu morreria de desespero se não tivesse o Deus maravilhoso em nossas vidas. Ele não dorme. Tenha certeza! E eu verei todos os inimigos caídos. Tu reconhecerás o mal em cada rosto e então, Jesus te libertará.
Bem, tudo isso seria fácil de te dizer, se o que eu sentisse por você não fosse amor. Nem que eu quisesse, eu conseguiria sentir raiva de você. Nem que fosse preciso, eu sentiria. Ainda assim, eu morreria por você. Como eu te disse um dia, "se o bem e o mal existem, você pode escolher. É PRECISO SABER VIVER". *¹

"E a tristeza de deixar os irmãos me faça desejar
partida menos imediata. Ah, podeis rir também
não da dissolução, mas do fato de alguém resistir-lhe,
de outros virem depois, de todos sermos irmãos,
no ódio, no amor, na incompreensão e no sublime
cotidiano, tudo, mas tudo é nosso irmão.

O tempo de despedir-me e contar
que não espero outra luz além da que nos envolveu
dia após dia, noite em seguida a noite, fraco pavio,
pequena ampola fulgurante, facho, lanterna, faisca,
estrelas reunidas, fogo na mata, sol no mar,
mas que essa luz basta, a vida é bastante, que o tempo
é boa medida, irmãos, vivamos o tempo" *²

*¹ - Música do Roberto Carlos.
*² - Poema de Carlos
Drummond de Andrade.

3 comentários:

  1. muito bom o post.
    Perfeito o texto. Gosto muito de voltar ao teu blog.
    Apareça.
    Maurizio

    ResponderExcluir
  2. vim ver um post novo, já que não tem, te releio e desejo um ótimo domingo.
    Apareça.
    Maurizio

    ResponderExcluir
  3. Nara lindaa!
    Obrigada mesmo pela torcida.
    Qualquer hora dessas eu volto.

    Bjus!

    =)

    ResponderExcluir

Diga-me você...