sábado, 17 de outubro de 2009

As estrelas não deixaram de brilhar

Alice e Maurício se amaram demais, incansavelmente, se confiava um ao outro e se relacionaram assim durante muito tempo. Pensavam que o amor jamais acabaria. Eles sentiam isso. Passado algum tempo deixaram que brigas entrassem no lugar dos sorrisos que eram deles. Alice não suportava mais o que eles haviam se transformado e Maurício não sabia mais como resistir à situação. Começaram decidindo que Maurício voltaria para sua casa, pois, pensavam que isso ajudaria. Mas, isso só afastou os dois mais ainda. Ela não queria mais atender aos telefonemas, sabendo que era ele. Ele resolveu mandar flores, mas isso não enchia mais os olhos de Alice. Ele quis dar tempo a ela e ela quis dar um basta neles. E assim ficaram.

Após alguns meses, Alice resolveu fazer uma faxina em casa. Começou pelo quarto.
Lá estava vazio e frio. Mesmo assim ela fez questão de abrir a janela e respirar o vento que invadia. Mexeu nas gavetas empoeiradas, viu algumas lembranças e as fechou. Pensou se seria boa idéia continuar a cutucar o passado. Mas sabia que não podia adiar mais ainda. Decidiu, então, começar pela estante de livros. Tirou os livros, passou um pano para tirar a poeira e os colocou no chão. Sentou-se e começou a soprá-los. Viu entre eles um que lhe chamou atenção e logo estremeceu sua espinha. Lembrou-se do aconchego da casa de seus pais e sentiu saudades. Ela não mais poderia tê-los. Colocou o livro no chão, fechando os olhos e respirando fundo. Sua casa era só recordação. Organizou os livros na estante e partiu para o armário. Ao abri-lo sentiu um perfume que há muito se fez presente. Respirou fundo, fechando-o. Achou que fosse coisa da sua cabeça. Esperou alguns instantes e voltou a abrir. Viu que o cheiro era o mesmo e aspirou com doçura. Tirou e dobrou algumas roupas e encontrou uma que não as suas e lembrou-se daquela tarde em que vestia após o banho. E que havia alguém deitado em sua cama que dizia que ela ficava linda. Guardou-a imediatamente e deu por terminada a arrumação, ali. Na gaveta de seu criado mudo, encontrou, por de baixo de papeis de contas antigas, a foto dela e do Maurício. Atrás estava a data do primeiro beijo e ela pode sentir os lábios quentes. Lembrou-se do sorriso que era sua fonte de alegria e de seus dedos enlaçados nos cabelos dele. Lembrou de como era gostosa a sensação que tinha ao ouvir “beija eu” quando estava com ele. Sorriu. Sorriso doce de quem está com cara de boboca.
Um barulho lá fora fez com que voltasse à tona e o encanto tornou-se realidade e tudo o que sentia era nostalgia. Receosa, colocou com delicadeza a foto de volta a gaveta. Passou a mão pelo lençol e sorriu. Continuou a faxina na sala, sacudiu almofadas, passou o pano nos móveis rústicos, limpou o espelho e ligou o som na estação clássica. Saboreou o toque e sentou-se, um tanto cansada. O tapete. O tapete de recordações. Ela hesitou um pouco, mas se convenceu de que era uma faxina de recordações. Lembrou-se com tanta saudade do Maurício que poderia ficar ali deitada por horas e horas lembrando ele. Ela adormeceu. Acordou sentindo o gosto do vazio e com as costas um pouco dolorida. Pensou em deixar o resto para o dia seguinte, mas sabia que não iria fazê-lo e levantou, sem querer. Abriu as portas do armário que ficava ao lado do espelho e a poeira gritou por seu nariz. Tirou as garrafas de vinho e limpou cuidadosamente as taças. Viu seu sorriso em cada uma delas e mastigou o sabor que um dia foi tão delicioso. Colocou cuidadosamente as garrafas e as taças de volta no armário e foi para a varanda. Olhou todas as flores que estava em sua varanda e não soube lhe dar com a situação. Correu para dentro. Ajoelhando-se no tapete, ela chorou. Chorou por não saber ser forte. Havia se prometido que nada a faria voltar atrás. Mas ela falhou, mesmo sabendo desde o início que isso aconteceria. Ficou ali por um momento, depois de chorar demais, levantou enxugando as lágrimas e voltou no seu roseiral domiciliar. Notou que em cima do banco havia um envelope, fazendo com que ela enchesse de esperança. Sentou no banco e pegou com seu coração aos pulos. Só tinha seu nome no envelope, naquela letra familiar. Abriu e sentiu de novo o perfume. Começou a ler já aos prantos.
Alice,

Escrevo-te estas mal traçadas linhas na esperança de que um dia me leia.
Sei que andamos de mal a pior a cada dia que passa e que o silêncio que nos apavora se transforma em sofrimento pouco a pouco. As nossas discussões passam da meia noite e não vejo modo para mudar. Meu sorriso não é mais tua fonte de alegria e nem teu abraço é o único para mim. Talvez, tenhas encontrado alegria em outro sorriso e já tenhas acordado em outro abraço que não o meu. Faz um tempo que não recebes as flores que eu te mando, pois, as vejo enfeitando o vazio de tua porta. Vi-te pela janela sorrindo, aquele sorriso de bom dia que você costumava me dar ao acordar. Mas não era a mim que o mostrava. Vi outra pessoa recebê-lo em meu lugar. Não há mais ninguém acordado ao meu lado na madrugada a me ver dormir. Tenho escutado o Russo sozinho às 6:30 e me ponho a suplicar junto para “quem inventou o amor? explicar por favor! quem me diz o que aconteceu?” E só o que ouço é o eco de minha voz à luz baixa. Você me fez infinitamente feliz e transformou cada segundo que estive contigo único. Desejei não mais acordar só para poder sonhar que eu ainda era o teu bem-querer e que você ainda gostava de brincar comigo no tapete da sala. Você adorava enrolar seus dedos em meus cabelos e cantar no meu ouvido “beija eu”. E eu te beijava como se cada beijo fosse o último. Lembro-me que prometemos que ficaríamos juntos para sempre. Sempre foi sempre por um triz. Hoje eu olho para o espelho manchado com teu batom onde estava escrito nossos nomes em vermelho. Você adora vermelho, não é? Desculpa-me se te amei demais e não entendia quando você precisava respirar. Desculpe-me se te abracei muito forte e fez prisão. Hoje eu vivo na prisão de amor que eu criei. Lembra quando eu te disse que, você me amar era tudo o que eu precisava para viver? Vejo que ainda vivo do amor que sinto por ti. Quero que sejas muito feliz, já que não fui capaz de te deixar livre para ser feliz comigo. Te amo... Até os céus explodirem... Lembra?

Maurício.

Após ler o grande amor de sua vida, desejou estar na prisão do abraço dele e queria dizer para ele que ela nunca se sentira presa. Sabia que a qualquer hora poderia ser livre. Olhou em volta e viu o nada. Passado um longo mês ela criou coragem de mandar um bilhete a Maurício. No bilhete, dizia: Eu precisei ir, você cresceu no meu coração. Aqui é seu lugar. Ele não respondeu. Seis dias se passaram e Alice viu que era hora de ir até ele. Em seu vestido vermelho, colocou uma sandália que havia ganhado dele no Natal, soltou os longos cabelos ondulados castanhos e saiu. Saiu como quem vai ao primeiro encontro. Esperançosa como nunca. Chegou à frente da casa onde sabia, por alto, que, era lá onde ele estava – só ficava há duas ruas da sua, mas desde então não haviam se encontrado. Chegou e achou estranho por estar tudo fechado e com uma placa de aluga-se. Seu olho cheio d’água quis jorrar de imediato, mas ela prendeu e soltou um suspiro. Ainda assim, chamou por Maurício e não queria acreditar que tinha acontecido o que pensava. Alguém a ouvindo gritar como louca decidiu informá-la que o homem a quem procurava havia se mudado há dois dias. Ela chorou. Ficou um tempo parada na porta, sem dizer uma só palavra e depois saiu. Carregava nos ombros uma derrota pra si mesma. Cabisbaixa e chorosa sentou na varanda de sua casa, carregada de solidão. E alguém, por detrás dela, aspirou seu perfume e disse: Prometi-te que seria até os céus explodirem. Ela chorou. E no primeiro momento, desencorajada não olhou para trás. Ele subiu os degraus e se postou em sua frente. Ela envergonhou-se por chorar daquele jeito e ele a abraçou. Ela quis falar que o procurou, mas ele a olhou com tanta ternura que ela rendeu-se e sentiu seus lábios quentes outra vez. Aproximou-se vagarosa e o beijou suavemente.
Depois de um longo silêncio, ela disse: você voltou. Todos os dias eu olhava pela janela e elas estavam lá.
Ele disse: Vi que os céus não explodiram e resolvi voltar.
Ela: As estrelas se recusaram a deixar de brilhar... Te amo.
Ele: “Até as estrelas deixarem de brilhar, os céus explodirem e as palavras não rimarem, eu vou te amar, querida, sempre.”
Alice e Maurício se amaram demais, incansavelmente, se confiava um ao outro e se relacionaram assim durante muito tempo. Pensavam que o amor jamais acabaria. Eles sentiam isso. Passado algum tempo deixaram que brigas entrassem no lugar dos sorrisos que eram deles. Alice não suportava mais o que eles haviam se transformado e Maurício não sabia mais como resistir à situação. Começaram decidindo que Maurício voltaria para sua casa, pois, pensavam que isso ajudaria. Mas, isso só afastou os dois mais ainda. Ela não queria mais atender aos telefonemas, sabendo que era ele. Ele resolveu mandar flores, mas isso não enchia mais os olhos de Alice. Ele quis dar tempo a ela e ela quis dar um basta neles. E assim ficaram.

Após alguns meses, Alice resolveu fazer uma faxina em casa. Começou pelo quarto.
Lá estava vazio e frio. Mesmo assim ela fez questão de abrir a janela e respirar o vento que invadia. Mexeu nas gavetas empoeiradas, viu algumas lembranças e as fechou. Pensou se seria boa idéia continuar a cutucar o passado. Mas sabia que não podia adiar mais ainda. Decidiu, então, começar pela estante de livros. Tirou os livros, passou um pano para tirar a poeira e os colocou no chão. Sentou-se e começou a soprá-los. Viu entre eles um que lhe chamou atenção e logo estremeceu sua espinha. Lembrou-se do aconchego da casa de seus pais e sentiu saudades. Ela não mais poderia tê-los. Colocou o livro no chão, fechando os olhos e respirando fundo. Sua casa era só recordação. Organizou os livros na estante e partiu para o armário. Ao abri-lo sentiu um perfume que há muito se fez presente. Respirou fundo, fechando-o. Achou que fosse coisa da sua cabeça. Esperou alguns instantes e voltou a abrir. Viu que o cheiro era o mesmo e aspirou com doçura. Tirou e dobrou algumas roupas e encontrou uma que não as suas e lembrou-se daquela tarde em que vestia após o banho. E que havia alguém deitado em sua cama que dizia que ela ficava linda. Guardou-a imediatamente e deu por terminada a arrumação, ali. Na gaveta de seu criado mudo, encontrou, por de baixo de papeis de contas antigas, a foto dela e do Maurício. Atrás estava a data do primeiro beijo e ela pode sentir os lábios quentes. Lembrou-se do sorriso que era sua fonte de alegria e de seus dedos enlaçados nos cabelos dele. Lembrou de como era gostosa a sensação que tinha ao ouvir “beija eu” quando estava com ele. Sorriu. Sorriso doce de quem está com cara de boboca.
Um barulho lá fora fez com que voltasse à tona e o encanto tornou-se realidade e tudo o que sentia era nostalgia. Receosa, colocou com delicadeza a foto de volta a gaveta. Passou a mão pelo lençol e sorriu. Continuou a faxina na sala, sacudiu almofadas, passou o pano nos móveis rústicos, limpou o espelho e ligou o som na estação clássica. Saboreou o toque e sentou-se, um tanto cansada. O tapete. O tapete de recordações. Ela hesitou um pouco, mas se convenceu de que era uma faxina de recordações. Lembrou-se com tanta saudade do Maurício que poderia ficar ali deitada por horas e horas lembrando ele. Ela adormeceu. Acordou sentindo o gosto do vazio e com as costas um pouco dolorida. Pensou em deixar o resto para o dia seguinte, mas sabia que não iria fazê-lo e levantou, sem querer. Abriu as portas do armário que ficava ao lado do espelho e a poeira gritou por seu nariz. Tirou as garrafas de vinho e limpou cuidadosamente as taças. Viu seu sorriso em cada uma delas e mastigou o sabor que um dia foi tão delicioso. Colocou cuidadosamente as garrafas e as taças de volta no armário e foi para a varanda. Olhou todas as flores que estava em sua varanda e não soube lhe dar com a situação. Correu para dentro. Ajoelhando-se no tapete, ela chorou. Chorou por não saber ser forte. Havia se prometido que nada a faria voltar atrás. Mas ela falhou, mesmo sabendo desde o início que isso aconteceria. Ficou ali por um momento, depois de chorar demais, levantou enxugando as lágrimas e voltou no seu roseiral domiciliar. Notou que em cima do banco havia um envelope, fazendo com que ela enchesse de esperança. Sentou no banco e pegou com seu coração aos pulos. Só tinha seu nome no envelope, naquela letra familiar. Abriu e sentiu de novo o perfume. Começou a ler já aos prantos.
Alice,

Escrevo-te estas mal traçadas linhas na esperança de que um dia me leia.
Sei que andamos de mal a pior a cada dia que passa e que o silêncio que nos apavora se transforma em sofrimento pouco a pouco. As nossas discussões passam da meia noite e não vejo modo para mudar. Meu sorriso não é mais tua fonte de alegria e nem teu abraço é o único para mim. Talvez, tenhas encontrado alegria em outro sorriso e já tenhas acordado em outro abraço que não o meu. Faz um tempo que não recebes as flores que eu te mando, pois, as vejo enfeitando o vazio de tua porta. Vi-te pela janela sorrindo, aquele sorriso de bom dia que você costumava me dar ao acordar. Mas não era a mim que o mostrava. Vi outra pessoa recebê-lo em meu lugar. Não há mais ninguém acordado ao meu lado na madrugada a me ver dormir. Tenho escutado o Russo sozinho às 6:30 e me ponho a suplicar junto para “quem inventou o amor? explicar por favor! quem me diz o que aconteceu?” E só o que ouço é o eco de minha voz à luz baixa. Você me fez infinitamente feliz e transformou cada segundo que estive contigo único. Desejei não mais acordar só para poder sonhar que eu ainda era o teu bem-querer e que você ainda gostava de brincar comigo no tapete da sala. Você adorava enrolar seus dedos em meus cabelos e cantar no meu ouvido “beija eu”. E eu te beijava como se cada beijo fosse o último. Lembro-me que prometemos que ficaríamos juntos para sempre. Sempre foi sempre por um triz. Hoje eu olho para o espelho manchado com teu batom onde estava escrito nossos nomes em vermelho. Você adora vermelho, não é? Desculpa-me se te amei demais e não entendia quando você precisava respirar. Desculpe-me se te abracei muito forte e fez prisão. Hoje eu vivo na prisão de amor que eu criei. Lembra quando eu te disse que, você me amar era tudo o que eu precisava para viver? Vejo que ainda vivo do amor que sinto por ti. Quero que sejas muito feliz, já que não fui capaz de te deixar livre para ser feliz comigo. Te amo... Até os céus explodirem... Lembra?

Maurício.

Após ler o grande amor de sua vida, desejou estar na prisão do abraço dele e queria dizer para ele que ela nunca se sentira presa. Sabia que a qualquer hora poderia ser livre. Olhou em volta e viu o nada. Passado um longo mês ela criou coragem de mandar um bilhete a Maurício. No bilhete, dizia: Eu precisei ir, você cresceu no meu coração. Aqui é seu lugar. Ele não respondeu. Seis dias se passaram e Alice viu que era hora de ir até ele. Em seu vestido vermelho, colocou uma sandália que havia ganhado dele no Natal, soltou os longos cabelos ondulados castanhos e saiu. Saiu como quem vai ao primeiro encontro. Esperançosa como nunca. Chegou à frente da casa onde sabia, por alto, que, era lá onde ele estava – só ficava há duas ruas da sua, mas desde então não haviam se encontrado. Chegou e achou estranho por estar tudo fechado e com uma placa de aluga-se. Seu olho cheio d’água quis jorrar de imediato, mas ela prendeu e soltou um suspiro. Ainda assim, chamou por Maurício e não queria acreditar que tinha acontecido o que pensava. Alguém a ouvindo gritar como louca decidiu informá-la que o homem a quem procurava havia se mudado há dois dias. Ela chorou. Ficou um tempo parada na porta, sem dizer uma só palavra e depois saiu. Carregava nos ombros uma derrota pra si mesma. Cabisbaixa e chorosa sentou na varanda de sua casa, carregada de solidão. E alguém, por detrás dela, aspirou seu perfume e disse: Prometi-te que seria até os céus explodirem. Ela chorou. E no primeiro momento, desencorajada não olhou para trás. Ele subiu os degraus e se postou em sua frente. Ela envergonhou-se por chorar daquele jeito e ele a abraçou. Ela quis falar que o procurou, mas ele a olhou com tanta ternura que ela rendeu-se e sentiu seus lábios quentes outra vez. Aproximou-se vagarosa e o beijou suavemente.
Depois de um longo silêncio, ela disse: você voltou. Todos os dias eu olhava pela janela e elas estavam lá.
Ele disse: Vi que os céus não explodiram e resolvi voltar.
Ela: As estrelas se recusaram a deixar de brilhar... Te amo.
Ele: “Até as estrelas deixarem de brilhar, os céus explodirem e as palavras não rimarem, eu vou te amar, querida, sempre.”

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