Ela era e não sabia.

O que são todas essas cores!?-Perguntou-se absorta no mesmo instante em que viu todas as luzes que brotavam do seu peito. Chegou junto ao espelho e com todo o extase quedou-se alí, maravilhada e com medo. Medo de quê? Medo de tudo aquilo que a assaltara numa manhã de sol fraco. Medo porque não sabia como e nem em que momento as cores lhe invadiram. Medo de não entendê-las... mais uma vez. Seus pensamentos pararam por um instante; no mesmo momento em que se sentiu pesada e suas pernas dobraram-se num surto que pode ouvir as pessoas no andar debaixo: "O que foi isso?" "Será que ela caiu?". Mas, de pouco a pouco todas as vozes ficaram distantes e era só um zumbido em seu ouvido. Nada importava naquele momento.
Tudo parecia tão pequeno fora daquele pequeno apartamento de janelões claros e cortinas de renda. A mulher aos prantos de todos os dias se saiu tão obsoleta que o sol pareceu prendê-la em sua sombra. Naquela manhã, antes de entrar no quarto perguntou-se o que era ela. Se era só o que dela os outros viam ou tinha um plano maior que não a cabia. Mas do modo como era se conhecia. Eram quase oito horas da manhã e há muito tempo seu quarto não a pertencia tanto. Chegou sem manias e deixou os traumas de si apenas na foto - foto que havia tirado numa festa e seu sorriso revelava-lhe uma grande mentira. E o que era era uma mentira? - na foto que encontrava-se na banca de cabeceira da cama. As luzes ficaram escassas e seu rosto embranqueceu. Queria ver a mulher que se tornara. Agarrou com toda a força o sentimento que ficara brando naquele quarto. E no espelho, tudo o que viu foi o abismo.