segunda-feira, 29 de junho de 2009

Aprendendo a brigar

..."Conversando com amigos, relatei minha dificuldade em aceitar reações bruscas de pessoas que amo, contei que nunca joguei um copo contra a parede, nunca disse um palavrão para meus pais, admiti que fico paralisada quando ouço gritos e ofensas, que não sei reagir e que no máximo de descontrole a que me permito é chorar, olha que coisa mais infantil. Meus amigos me olharam consternados. Jura? Nunca brigou feio?
Nunca. E talvez tenha me feito falta.

Pelo que vejo e ouço por aí, mulher meter o dedo no nariz do marido é normal, e ele pegá-la pelo braço e sacudi-la é mais normal ainda. Filhos serem grosseiros com os pais é saudável e, entre irmãos, não saindo morte, o resto vale. Cliente pegar o garçom pelo colarinho para reclamar da comida fria, síndica riscar o carro do vizinho que atrasou o condomínio, está tudo dentro do esperado. Fazer sinal com o dedo médio para o motorista que custou um pouco a arrancar quando o sinal abriu é justo, ora, estamos todos com pressa. Destratar a balconista por causa de um engano que ela cometeu é seu direito. Xingar as amigas e botar a bronca na conta da “intimidade”, tudo bem. Desligar o telefone na cara dos outros acontece. Bater portas, provocar ciúmes para vingar-se, dar rasteira na avó, deixar o cunhado falando sozinho, pomba, quem não?
....
Enquanto não encontro meu lugar neste mundo de relações aos gritos, de amores brutos, de ringues familiares, seguirá me restando apenas o consultório do psiquiatra, o único lugar onde consigo travar a única briga que me parece evolutiva: eu versus eu."
Martha Medeiros

4 comentários:

  1. É bem isso mesmo. Dá um medo, não dá, Narinha? Essa sensação de que, se não formos mais fortes que o mundo, se não formos maiores, independentes, seguros, o mundo vem e engole a gente. Acho que é por isso: as pessoas acham que, na selva de pedra em que vivemos, quem é delicado se machuca. Não que não tenha lá a sua verdade, mas eu prefiro acreditar que é a nossa delicadeza quem nos dá a esperança de, quando bater um vento, a gente sair voando por aí (sem tombos, sem espinhos).

    Além de que, acho eu, machucar os outros não é força, nem segurança, nem nada disso. É só mais um meio de tentar se defender, de tentar evitar sair machucado. Tentar.

    beijo!

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  2. Texto lindo de Martha!
    A-DO-RO ela!

    Mas vc se sente assim tb? Culpada por ser cordial e gentil? Please, não sinta.
    Você, como Martha, como eu, somos umas das poucas normais que restaram nesse mundo hostil.

    Bjus!

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  3. Uma das coisas que mais escuto é: você precisa aprender a dizer "NÃO", nunca consigo, nunca, e pago pra não ouvir um não também de quem gosto, muito menos de chatear, mas já gritei, e principalmente, chorei.

    Um beijo.

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