quarta-feira, 8 de junho de 2011

És um poema, mistério e lágrimas.

Embora a perda esteja à espreita em todos os momentos da vida, dessa vez, eu sinto medo. Sinto medo de não saber o que fazer com a dor. Sinto medo de não saber dar sentido ao meu sofrimento. Sinto medo de não sucumbir, de entristecer toda minh'alma. Queria poder dizer “vai passar”, mas, até mesmo essas palavras que sempre funcionaram, de algum modo, silenciaram dentro de mim.

Meu olhar voltou-se para o vazio; minha boca, pr’um sorriso torto; meus ouvidos, pro silêncio. Minhas palavras secaram. Minhas lágrimas escorrem sem que eu as veja. É algo não-físico. Acontece dentro. Amortece dentro. Meu corpo esfriou, meus lábios empalideceram, minhas mãos pedem apoio. “Seja forte” – suplico-lhe. Muito embora, meu coração não queira mais ver-te sofrer.

Todas as noites sonho com os incontáveis beijos que lhe darei se você acordar. Sonho com tudo o que nossas almas passaram enquanto estávamos longe. Sim, sei que a noite elas saíam de mãos dadas e iam bailar para além dessa distância e desse céu que está muito acima de nós. Embora inconsciente, sei que podes sentir o meu amor emanando por toda a tua essência.


"Destes obscuros canteiros da alma,
destes bosques do coração,
desta melancolia da morte
sobem as vozes, com ramos de lágrimas.

Assim partis,
sem terras, ares, mares:
só pela invisibilidade,
sem saberdes sequer que estais partindo.

Não nos podemos mais saudar nem despedir,
nem repartir o pão da nossa mesa
e a luz dos nossos sonhos.

Sois agora como estátuas
em solidões silenciosas,
entre solenes paredes de saudade,
em sítios suspensos do pensamento.

Mais longe que aquela nuvem.
Mais longe que qualquer céu.
Podemos pensar mais longe.
E quereríamos que um dia voltásseis,

para sermos outra vez amigos.
(Ramos de lágrimas, as vozes.)"

Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)

13 comentários:

  1. hoje estamos bem , juntos, mas tem horas que fico pensando como será no dia que tudo isso acabar…por que tem que ser assim????

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  2. Versos , Mistério e Lágrimas
    :combinação perfeita a qual parece adornar com tons de vivência, sabedoria e sensibilidade as contemporâneas almas femininas dos Séc XIX, XX e XI.

    Parabéns pela sensibilidade!

    Beijos ternos e fraternos abraços!

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  3. Cecília Meireles sempre toca minha alma. Seu texto também, como o Mero Esmero disse, quanta sensibilidade!

    Achei seu blog por ai e adorei! Volto sempre! Espero você no meu também :)

    Beijos :*

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  4. Também: Lindo, profundo e tocante..
    Sem palavras ao termino da leitura,
    tanto a Cecília quanto você conseguiram me tocar com essas palavras...

    bjs, flor

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  5. Lindo, senssível, emocionante,puro...

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  6. Nara, que significativo seu comentário no meu blog! Ou melhor, que significativa a coincidência. Faz milhões de anos que não ouço Crying e alguns séculos que não ouço Aerosmith, mas por ser a banda que me introduziu no rock, guardo na memória e no coração um cantinho especial pra eles! Mas, independentemente disso, é muito interessante o fato de você estar ouvindo precisamente a música da qual eu falava no post *_*

    Quanto ao seu post, fiquei tocado pela a sua sensibilidade em lidar com a tristeza que ele carrega. Que as tristezas inevitáveis da vida possam, ao menos, cumprir algum papel, mesmo que tal papel só seja reconhecido em algum futuro-do-pretérito escondido nos bolsos do tempo...

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  7. escrever com a alma é fundamental, como você diz no perfil, e dá pra perceber realmente isso no texto. mas talvez imaginar que as almas bailem seja impor mais sofrimento a ela na hora de escrever. ou não.

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  8. Já perdi tanto nessa vida... lindo poema da C.M

    beijos querida
    otima semana...
    seu blog lindo como sempre

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  9. Que postagem cheia de tudo. Adorável!

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  10. tuas palavras lembram as de Clarice Lispector. Tem uma semelhança..
    lindo, lindo e lindo.

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