domingo, 30 de novembro de 2014

Mas tem você no meio do caminho.

Não há precaução para o afeto - constatado! -, meu caro. Não há como interromper o processo ao meio quando tudo o que se tem são meias palavras e um bocado de vontade de seguir em frente mesmo (não) sabendo o que virá. Você me olha como se confiasse no meu não-sentir, buscando uma certeza de que ambos sairemos ilesos, inculpáveis. Afinal de contas, culpa é algo que deixamos muito claro não vir ao caso. Que deixemos assim. Na verdade, passei tanto tempo remediando sensações e vazios até descobrir que limpar a casa é a única alternativa cabível a um coração pacífico, e depois de tanto ordenar as coisas aqui dentro o que se segue é uma vontade toda minha de pintar e bordar comigo mesma.  E você vai me olhar mais uma vez com essa cara de quem está no lugar errado com alguém improvável, e eu vou rir na sua cara, arteira, outra vez. E vou dizer que a previsão do tempo mudou mais uma vez e que ouvi Norah Jones cantando com John Mayer de uma forma que nunca ouvi antes.
E daí? E se não for, se for, se é? E daí?, penso eu quando o sorriso gargalha, quando há cumplicidade da liberdade compreendida, quando eu só quero dar as mãos e caminhar de pés descalços em cima desse chão chamado hoje, neste solo chamado um-dia-de-cada-vez. Se algo aí consegue se comunicar com algo aqui dentro, que tagarele. Não venha me dizer que era isso que temia, que eu compreendi mal e toda aquela história que você sabe que eu odeio. C'est la vie, bon vivant.
Hoje só precisei tirar as sandálias dos pés, desnudando-me com as palavras. Assim pude desprender você da caligrafia claustrofóbica e me arejar ao mesmo tempo. Libertando a palavra que prendia você, liberto uma das partes essenciais de mim mesma: minha consciência tranquila, meu sentir absoluto.

Nunca teve sequer um momento em que deixasse de acreditar no dia vindouro, e não seria um estrangeiro em seu cais que mudaria a sua felicidade derradeira. É que faz um sol de Ipanema às quatro da tarde no seu coração, sendo no rio de janeiro ou não. (Beatriz Marques)

Um comentário:

  1. Tua escrita é tão leve e espontânea... parece que vai-indo-com-o-pensamento-tão-rápido-quanto-o-pensamento. E natural.
    Saudades de ler você... Te gosto!

    Com amor, Dani

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