segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Eu novo, de novo...


Me peguei relendo alguns textos que marcaram momentos únicos da minha existência. Havia dores, alegrias, afetos, inícios e finais. Tanta palavra dita a fim de salvar a essência de cada momento talhado em meu coração. Pude enxergar vários ciclos que foram abertos e fechados, muitas lutas com as reticências devido à incerteza que os amanhãs nos trazem, mas o ponto final foi decisivo em cada momento resiliente. Apesar da aparente incógnita que o processo de viver deixa dentro da gente, a vida segue muito bela e desafiadora, faz-nos sempre aprendermos novos modos de ser e viver, descobrindo a finitude das coisas e, principalmente, das pessoas e de nós mesmos. Pensar na efemeridade é pensar no quanto de vida temos, de fato, adicionado aos nossos dias. Muitas vezes vemos o tempo como um ditador, que não nos deixar tirar os sapatos e descansar um pouco. Mas, será mesmo? As nossas escolhas nos dizem quanto tempo sobrou para amar, doar, dividir os sentimentos e se entregar as delicadezas fugazes. Nossas escolhas demarcam o território que atravessamos; mas é mais fácil culpar o tempo, que não nos permite sentar e respirar mais do que cronometrar a vida.

No meio do devaneio, eu fiquei pensando nas minhas próprias escolhas e – por que não? – desculpas! Eu, que sempre tive um caso com a poesia, enamorei-me do silêncio que aprisiona a palavra. Mas uma boa notícia nisso tudo é que, ainda assim, cresci. Mesmo que eu tenha calado algumas coisas do lado de dentro, aprender a trabalha-las foi um processo gostoso de viver. Ser humano é espécie que também aprende pela falta. É a falta que anuncia a incongruência. A falta me mostrou que ainda que conscientemente eu não fizesse da vida poesia, a poesia me fez viver a vida em todo esse tempo. Como uma parede encrespada, que pouco a pouco é tomada por folhas e flores - é um jeito de adornar com amor a rudeza que a vida exige da gente. E pude constatar que a essência da vida está além do dizível desse mundo.

Alguns nós enfeitados com laços foram desfeitos e assim pude desabotoar a mágoa que impedia a cicatriz. Algumas ervas daninhas foram removidas e sei que essa limpeza não é permanente se a manutenção não for contínua. Tudo o que desejo é estar cada vez mais comprometida comigo e com o melhoramento desse espaço interno, porque só a partir dele eu posso abraçar o palpável externo. Quero estar inteira em cada momento, sem me torturar quando alguns pedaços ainda estiverem aprendendo a se reconstituir. E mais do que tudo, quero poder ser a presença que ama independente de, mas que também possa ser a tranquilidade da ausência quando fim – porque todo dia é recomeço, dentro e fora.

Nara. 


Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.” (Fernando Pessoa)

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