No seu ofício de ser, sentia-se impotente, machucada e murcha. Era como se fosse a morte prematura de um membro que lhe era essencial. Ao mesmo tempo que tentava ser voraz e ativa, faltava-lhe a vitalidade. Os olhos eram sem vida, as mãos, a fala e os movimentos já não eram tão ágeis e às vezes perdia-se no meio de uma frase que pensara segundos antes. As mãos entraram numa geladura permanente, rígidas e com linhas bem definidas. Mas, os efeitos externos eram muito menores comparados às lesões interiores. Essas sim incomodavam, ganhavam vida própria, falavam, faziam e aconteciam. Inúmeras foram as vezes que tentou fugir de si mesma, abandonar-se e não sentir. Mas, ela sabia bem que fugir não tinha nada a ver com não sentir.
Levantava-se todo dia com gosto amargo de quem dormia para esquecer. Pedia a Deus para poupar-lhe os pesadelos e conceder-lhe sonhos bonitos como aqueles que via nas fotos. Fazia café forte e matava um pouquinho da dor na saliva. Ganhava abraços afetuosos e desfragmentava-se na compaixão. Os movimentos de lábios eram lentos e sorria miúdo. Prendia o choro e entrava numa espécie de let it be.
Esta foi uma parte muito viva para mim do seu post: «as, os efeitos externos eram muito menores comparados as lesões interiores. Essas sim incomodavam, ganhavam vida própria, falavam, faziam e aconteciam.» Tudo o que fica internalizado de uma tal forma que desperta uma depressão, um sofrimento interior, parece ganhar autonomia. É um verdadeiro suplício. Gostei da forma como usaste as palavras para se referir a este fato.
ResponderExcluirEu tenho a impressão de que se um dia aprender a prender o choro, serei uma mulher mais forte.
ResponderExcluirNão sei, só desconfio.
Um beijo.
Um tanto forte o seu texto, ótimo.
ResponderExcluirMuito interessante seu texto," Os movimentos de lábios eram lentos e sorria miúdo.Prendia o choro...".Bonita a maneira que descreveu as dores internas que tentam ser disfarçadas,mas que nem sempre com bom êxito.
ResponderExcluirBeijos querida, parabéns pelo blog e obrigado por visitar o meu.
e quantas vezes todos não estamos assim? como vc descreve o personagem do teu texto?
ResponderExcluirAs vezes é necessário "deixar estar"...
ResponderExcluirLindo, amor.
Nara Sales
ResponderExcluir: Teu sobrenome é intensidade!
Fraterno Abraço!
Beijo terno!
Quando a gente esconde a dor. Ela fica querendo aparecer toda hora por entre as paredes dos nossos olhos. As cortinas da alma se agarram facilmente na projeção de uma lágrima. A gente esquece do mundo quando quer somente sentir.
ResponderExcluir"fugir não tinha nada a ver com não sentir."
ResponderExcluirinfelizmente :\
Que belo.
ResponderExcluirNossa! Eu sou admiradora do "let it be" já pensei em tatuar e tudo... rs E já escrevi também um texto cuja personagem fazia uso de tal expressão... E bom, o seu é perfeitamente o que eu queria dizer, mas nunca soube de alguma maneira "legível".
ResponderExcluir"Inúmeras foram as vezes que tentou fugir de si mesma, abandonar-se..."
ResponderExcluirConseguiste descrever aquilo que faz dias que estou tentando escrever.
Com licença dis direitos autorais, estou indo escrever esse na minha agenda.